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terça-feira, 27 de outubro de 2020

Slavo Sirks, Schubert e Globalização - artigo antológico

Leia o relatório de um especialista no estudo de Tempos e Movimentos, após assistir um concerto sinfônico, no Teatro Municipal:
1. Por consideráveis períodos de tempo os operadores do fagote e oboés não tiveram nada que fazer. Assim sendo, seu número poderá ser reduzido, com o trabalho diluído mais uniformemente no desenvolvimento do concerto, eliminando piques de atividade.

2. Todos os violinistas tocavam notas idênticas, o que nos parece uma duplicação desnecessária. O pessoal desta seção poderá ser reduzido drasticamente. Caso um grande volume de som seja necessário, este poderá ser obtido por meio de equipamentos eletrônicos.

3. Muito esforço é despendido para se tirar dos instrumentos meia-semicolcheias. Isto nos pareceu um refinamento excessivo. É recomendado que todas as notas sejam arredondadas para a semicolcheia mais próxima. Caso isto seja feito, será possível empregar, de um modo geral, aprendizes ou músicos com pouca experiência.

4. Pareceu-nos haver muita repetição de algumas passagens da música. Estas passagens deverão ser cortadas, sumariamente. Aparentemente, não existe nenhum propósito útil de repetir com os trompetes um trecho já executado anteriormente pelas cordas. Estimamos que, se forem eliminadas todas as redundâncias, o tempo total do concerto de 2 horas poderá ser reduzido para 20 minutos, tornando o intervalo desnecessário.

5. De um modo geral, o maestro concorda com estas recomendações, porém expressa a opinião de que poderá haver alguma queda na bilheteria. Caso este evento indesejável venha a ocorrer, será possível fechar certas seções do auditório, como as torrinhas. Este fechamento traria como consequência uma redução nas despesas administrativas, iluminação, serviços, etc., inclusive menor consumo de energia de equipamento de ar condicionado. Caso aconteça o pior, a falta total de assistentes, o público deverá ser deslocado para o concerto de jazz, no bar ao lado, e o teatro usado para outros fins lucrativos.

6. Seguindo o princípio de que “sempre existe um outro método”, sentimos que maiores revisões devem ser feitas e que trarão benefícios adicionais. Por exemplo, consideramos que existe ainda um largo campo de pesquisas para ser aplicado em muitos dos métodos de operação dos instrumentos. Um "Questionário de Atitudes" deverá ser preparado, pois talvez venha a ser necessária uma revisão nos métodos tradicionais, que não são mudados há alguns séculos. Notamos que o pianista, além de executar a maior parte de seu trabalho com as duas mãos, usa também os dois pés no acionamento dos pedais. Ainda mais, ele procura, exaustivamente, algumas notas no piano, indicando ser provável que um redesenho do teclado, trazendo as notas mais prováveis para a área normal de trabalho, seria de grande vantagem para este operador. Em outros casos, os operadores estavam usando as duas mãos para segurar o instrumento quando poderia ser usado um dispositivo qualquer, deixando a mão inútil livre para outro trabalho.

7. Foi notado também que um esforço excessivo é ocasionalmente empregado pelos operadores de sopro. Um compressor de ar poderia suprir o ar adequado para todos estes instrumentos em condições que permitiriam um controle mais preciso.

8. A obsolescência do equipamento é um outro ponto no qual sugerimos uma investigação mais profunda. No programa do concerto está assinalado que o instrumento do primeiro violinista tem centenas de anos de idade. Aplicando taxas de depreciação normais, o valor deste instrumento estará reduzido a zero e é provável que deverá ser considerada a compra de um equipamento mais moderno”.

SANTOS, Renato Luiz de Castro. Comentários sobre o artigo de Delfim. Gazeta Mercantil, 25 de abril de 1996. p. A-6. DELFIM NETTO, Antônio. Slavo Sirks, Schubert e globalização. Gazeta Mercantil, 24 de abril de 1996. p. A-2.

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