Indústria deve puxar o bom desempenho no ano que vem, de acordo com a Visão Geral da Carta de Conjuntura
As previsões de produto
potencial feitas com base no cenário para 2018 mostram que, mesmo com a
aceleração do crescimento, o PIB ainda chegaria ao final do ano abaixo
de seu potencial, corroborando o cenário de
inflação abaixo da meta no ano que vem. A inflação projetada pelo Grupo
é de 2,9% em 2017 e 4% em 2018. Com a queda da inflação corrente e as
expectativas para o futuro ancoradas, ao final de 2018, em nível próximo
da meta de 2019 (4,25%), espera-se que o
Banco Central conclua o atual ciclo de afrouxamento monetário no começo
de 2018 e mantenha a meta da taxa Selic no patamar de 6,75% a.a. até o
final do ano. Essa trajetória deve gerar níveis muito baixos de juros
reais, propiciando condições ao financiamento
de despesas de consumo e investimento. O Grupo de Conjuntura considera a
condução da política monetária um dos principais impulsos ao
crescimento.
Para o quarto trimestre
de 2017, a projeção é de um aumento de 2,3% do PIB em relação ao mesmo
trimestre do ano anterior, e de 0,2% frente ao terceiro trimestre. Pela
ótica da oferta, todos os componentes devem
apresentar taxa de crescimento positiva em relação ao quarto trimestre
de 2016: 2,7% para a indústria, 2,0% para os serviços e 0,4% para a
agropecuária. A agropecuária cai em relação ao terceiro trimestre de
2017, mas a indústria e os serviços crescem.
Pela ótica da despesa, o
consumo das famílias deve crescer 3,4% em relação ao mesmo período do
ano anterior, e o investimento agregado deve apresentar crescimento de
2,9% na mesma base de comparação – primeira
variação positiva desde o primeiro trimestre de 2014. Espera-se que as
exportações líquidas também contribuam positivamente para o crescimento:
aumento de 6,3% das importações e de 12,9% das exportações. O único
componente a apresentar queda em relação ao
quarto trimestre de 2016 é o consumo do governo (0,8%).
Nos trimestres
seguintes, a expectativa é de continuidade desse processo de recuperação
cíclica. Pelo lado da oferta, a queda esperada do PIB agropecuário em
2018 (2,5%) deve ser compensada pelo crescimento da
indústria (3,7%) e dos serviços (2,8%). Pelo lado da demanda, espera-se
que o crescimento seja puxado pelos gastos de consumo das famílias
(3,4%) e de investimento (5,2%). O consumo público deve apresentar
crescimento nulo em 2018. É esperado, ainda, um aumento
mais forte das importações (7,8%) relativamente às exportações (4,3%). A
elevada taxa de crescimento das importações é condizente com a expansão
da renda doméstica e do investimento ao longo do ano.
A Visão Geral da Carta de Conjuntura
nº 37 aponta que
um dos suportes para a recuperação em curso tem sido o mercado de
trabalho. A taxa de desemprego caiu de 13,7%, no primeiro trimestre de
2017, para 12,2%, no trimestre encerrado em outubro
– de acordo com a PNAD Contínua do IBGE. Sem ignorar o fato de que a
taxa de desemprego ainda é muito elevada, e que ainda há 12,7 milhões de
pessoas em busca de trabalho, cabe destacar que essa reversão vem
ocorrendo mais rapidamente que o esperado. Outro
pilar da recuperação tem sido o mercado de crédito – ou melhor, a
expectativa de que o mercado de crédito reaja à queda dos juros, à
redução da inadimplência e à abertura de espaço no orçamento das
famílias para contrair novas dívidas.
Apesar das dificuldades
correntes de aprovação, no Congresso Nacional, de medidas fundamentais
de ajuste fiscal estrutural – em particular, da reforma da previdência
–, o cenário apresentado pelo Grupo de Conjuntura
do Ipea supõe algumas premissas básicas: (i) que as medidas necessárias
serão implementadas, no curto ou no médio prazo; (ii) que a percepção
de risco dos agentes privados (em relação à sustentabilidade das contas
públicas) se elevará um pouco, porém permanecerá
sob controle face à expectativa de ajuste; (iii) que o ambiente externo
continuará provendo liquidez suficiente durante o período de transição,
enquanto as medidas de ajuste não forem adotadas.
A Visão Geral é
concluída com uma avaliação da taxa dos Credit Default Swaps (CDS) do
Brasil – principal medida corrente de risco-país. Embora ela apresente
elevada correlação com as taxas dos CDS de outros países
emergentes, o que poderia sugerir baixa relevância dos fatores
domésticos na determinação do risco soberano do Brasil, a análise
realizada aponta para a importância de diversos eventos políticos e
econômicos domésticos na evolução recente desse indicador.
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